Humanidades

A queda de Roma foi o golpe de sorte para humanidade
A ausaªncia do Impanãrio Romano alimentou a civilizaa§a£o ocidental. Nada como o Impanãrio Romano voltou a surgir - o que foi uma coisa boa, diz o historiador de Stanford, Walter Scheidel. Aqui, ele explica o porquaª.
Por Melissa de Witte - 23/10/2019

Crédito da imagem: bwzenith / Getty Images
O professor de Stanford, Walter Scheidel, diz que a queda do Impanãrio Romano permitiu a ascensão da civilização ocidental

Por que o Impanãrio Romano caiu éfrequentemente discutido nas aulas de história e nos livros dida¡ticos. Mas uma nova pesquisa do historiador de Stanford, Walter Scheidel, considera um a¢ngulo que recebeu pouca atenção acadaªmica: por que ela - ou algo semelhante a ela - nunca emergiu novamente?

Scheidel discute em um novo livro por que o Impanãrio Romano nunca foi reconstrua­do e quanto fundamental foi sua ausaªncia para o crescimento econa´mico moderno, a Revolução Industrial e a expansão ocidental mundial. Livres das garras de um monopa³lio imperial, os europeus experimentaram e competiram, inovaram e colaboraram - todas as condições prévias para o mundo em que agora vivemos, disse ele.

Scheidel, o professor Dickason em Ciências Humanas e um colega de Catherine R. Kennedy e Daniel L. Grossman em Biologia Humana, éautor de Escape from Rome: The Failure of Empire and the Road to Prosperity (2019). Ele também editou A Ciência da Hista³ria Romana: Biologia, Clima e o Futuro do Passado (2018).

O colapso do Impanãrio Romano éconsiderado por muitos um dos maiores desastres da história. Mas vocêargumenta que o drama¡tico colapso de Roma foi realmente a melhor coisa que já aconteceu. Como assim?

A desintegração do impanãrio romano libertou a Europa do governo por um aºnico poder. Os monopa³lios imperiais proporcionavam paz e estabilidade, mas, ao procurar preservar o status quo, também tendiam a sufocar a experimentação e a dissidaªncia. Quando o fim do impanãrio removeu o controle centralizado, os grupos eleitorais pola­ticos, militares, econa´micos e religiosos rivais começam a lutar, negociar e comprometer e - no processo - reconstrua­ram a sociedade de acordo com diferentes linhas.


Esses 1.500 anos (atéa Segunda Guerra Mundial) estavam cheios de conflitos, quando a Europa se dividiu em um sistema estatal violentamente competitivo. Mas, apesar de todo o sofrimento que causou, essa fragmentação e competição fomentaram a inovação que acabou gerandomudanças sem precedentes na produção de conhecimento, desempenho econa´mico, bem-estar humano e assuntos pola­ticos. Esse caminho para a modernidade foi longo e tortuoso, mas também aºnico no mundo.


Em contraste com outros impanãrios em larga escala - como as dinastias sucessivas na China - o impanãrio romano nunca voltou a  Europa. Porque foi isso?

Uma resposta excessivamente simples seria que todas as tentativas posteriores de restaurar o impanãrio universal em solo europeu falharam. Mas isso foi apenas um acidente? Argumento que não: havia fortes razões ambientais para a fragmentação duradoura da Europa. A Europa carece de grandes bacias hidrogra¡ficas que sustentavam energia centralizada em outros lugares e émoldada por barreiras nas montanhas e costas excepcionalmente longas que a dividem em unidades menores. Talvez o mais importante seja que a Europa Ocidental estãolonge das grandes estepes da Eura¡sia, campos que costumavam abrigar na´mades banãlicos que tiveram um papel crítico na criação de grandes impanãrios na Raºssia, no Oriente Manãdio e no sul e leste da asia. Embora essas caracteri­sticas não tenham determinado resultados hista³ricos, elas levaram a formação do estado europeu a uma trajeta³ria diferente de maior diversidade.

 

O que tornou o Impanãrio Romano tão bem-sucedido?

Se a Europa não era um terreno fanãrtil para a construção de impanãrios, podemos nos perguntar por que o Impanãrio Romano existia. Os romanos conseguiram explorar um conjunto de condições difa­ceis ou mesmo impossa­veis de replicar mais tarde. Atravanãs da manipulação perspicaz de obrigações ca­vicas, recompensas materiais e aliana§as, sua liderana§a conseguiu mobilizar um grande número de agricultores comuns para operações militares a baixo custo.

O historiador de Stanford, Walter Scheidel, chama a queda de Roma
de "grande fuga". (Crédito da imagem: Daniel Hinterramskogler)

Roma também se beneficiou dos na­veis modestos de formação do estado no Mediterra¢neo ocidental e do fato de reinos maiores no leste estarem ocupados lutando entre si. Isso lhes permitiu dominar e engolir outras sociedades uma a uma. Em períodos posteriores, por outro lado, a Europa estava cheia de estados concorrentes que impediam qualquer um de subjugar todos os outros.

 

Quais foram os esforços para reconstruir o Impanãrio Romano e por que eles falharam?

Tais esforços começam quase imediatamente quando o Impanãrio Romano do leste tentou recuperar as prova­ncias ocidentais que haviam caa­do para os conquistadores germa¢nicos. Duzentos e cinquenta anos depois, o governante franco Carlos Magno se denominou imperador romano e, mais tarde, na Idade Manãdia, uma entidade pesada conhecida como Sacro Impanãrio Romano da Nação Alema£ apareceu em cena. No entanto, nenhum desses projetos conseguiu recriar um impanãrio do tamanho, poder ou durabilidade de Roma.

Os esforços posteriores dos Habsburgos e de Napolea£o para estabelecer algum grau de hegemonia sobre a Europa também falharam. Va¡rios fatores foram responsa¡veis ​​por isso. Na Idade Manãdia, a erosão do poder e dos impostos reais provocada pelo aumento das aristocracias fundia¡rias interferiu na construção do estado. No ini­cio do período moderno, o sistema estatal europeu já havia se tornado profundamente arraigado para ser desalojado por qualquer poder e os possa­veis conquistadores eram confiavelmente frustrados por aliana§as que controlavam suas ambições.


Vocaª dedica seu epa­logo a  pergunta direta de Monty Python: "O que os romanos já fizeram por nós?" Então, o que o mundo moderno deve ao passado antigo?

Normalmente, focamos nos legados da civilização romana que ainda são visa­veis hoje, desde as la­nguas roma¢nicas, o sistema de escrita romana e muitos nomes pra³prios atéo calenda¡rio juliano, lei romana, estilos arquiteta´nicos e, por último, mas de maneira alguma menos importante, os vários Igrejas crista£s. Tudo isso continua a moldar nossas vidas.

Mas quando se trata de explicar por que o mundo mudou tanto nos últimos dois séculos, a contribuição mais importante do Impanãrio Romano acaba sendo que ele desapareceu para sempre e nada como nunca voltou. Essa ruptura foi cra­tica ao permitir que as condições certas para a mudança transformadora surgissem ao longo do tempo. a€s vezes, o legado mais importante éaquele que não podemos ver!

 

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